
Crianças com comportamento adulto
Imitar os pais é natural e pode ser uma delícia para os pequenos. Mas quando a brincadeira vai longe demais, é preciso ter cuidado.
Por Thiago Perin
Toda criança gosta de imitar os adultos. “Por volta dos dois anos, os pequenos começam a querer se vestir e agir como seus pais e familiares mais velhos. É perfeitamente normal”, diz a psicóloga Rita Calegari, do Hospital São Camilo, em São Paulo. Mas há casos em que a imitação vai longe demais e a criança começa a falar e agir de maneira adulta.
Um bom exemplo é a apresentadora e atriz mirim Maisa, que fez sucesso ao aparecer no SBT com Sílvio Santos. Diante das câmeras, Maisa, desinibida, falava como se fosse adulta, mas houve ocasiões em que cedeu à pressão e, como uma criança normal, desatou a chorar e perguntou pela mãe. As críticas abundaram. É saudável incentivar esse tipo de comportamento em uma criança?
Segundo especialistas, incentivar as crianças a agirem como adultos é, na prática, encurtar sua infância. “Cria nela uma necessidade de desempenhar um papel que não é compatível com sua idade. Muitas vezes, eles se comportam dessa forma para se sentirem reconhecidos e aceitos pelos pais”, diz a psicóloga da família Liana Kupferman, de São Paulo. Na tentativa de manter essa posição, a criança “adultificada” pode tornar-se agressiva e, incapaz de lidar com a frustração, passar a ter problemas na escola e até dificuldade de se relacionar com colegas da mesma idade.
“No futuro, se essa questão não for abordada, pode gerar conflitos internos, dificuldade de adaptação e até gerar algum retrocesso de atitudes para resgatar a importante fase da infância que foi perdida”, diz a psicoterapeuta infantil Vanessa Sapiro, de São Paulo. “Os casos de depressão e transtornos de ansiedade vêm crescendo absurdamente na população jovem”, acrescenta Rita Calegari.
É um fato: quando a criança olha para o adulto, ela quer fazer as mesmas coisas que faz. Mas há um processo natural: à medida que cresce, acrescenta elementos à vida cotidiana. “A criança cria expectativas para as coisas legais que vêm com a idade. Se pular essa etapa, perde o encantamento com as delícias do mundo adulto. Quando ele crescer, a única novidade é a responsabilidade”, diz Rita. É normal que um jovem se sinta entediado, deprimido e até doente.
A atitude dos pais, como sempre, é fundamental. Imitando o adulto, a criança o fará, mas depende dos pais reforçar ou não esse comportamento. “Se o pequeno já está acostumado a agir como adulto, os pais devem fazer um autoexame de consciência para identificar como suas atitudes estão influenciando os filhos”, diz Vanessa. “O ideal é que eles não tentem cortar seus hábitos da noite para o dia, mas aos poucos, ao mesmo tempo em que passam a valorizar outros aspectos da personalidade da criança, condizentes com sua idade”, diz Rita Calegari.
“Ser flexível com o pequeno, mostrar que ele mesmo tem espaço para erros, dúvidas e dificuldades é um bom começo para ele se identificar com a totalidade que é o ser humano”, diz Vanessa Sapiro. “É fundamental respeitar a fase em que seu filho está, com atividades que ele possa acompanhar”, conclui.
O artigo foi publicado na "Revista Bebe", Abril ed. (Revista Baby) - Brasil, maio 2015
O artigo foi traduzido pelo Google Tradutor. Veja o artigo original em português aqui .